Colaboração: Cap PM Décio Leão - UNTAET - 2001/2002 - Timor Leste

 

 

A SERVIÇO DA PAZ:

A MISSÃO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

NO TIMOR LESTE

 

 

DÉCIO JOSÉ AGUIAR LEÃO, 1º Ten PM, servindo na UNTAET, como Comandante da Unidade de Armas e Explosivos da Polícia das Nações Unidas no Timor Leste.

A Polícia Militar do Estado de São Paulo esta se fazendo representar junto à comunidade internacional com sua participação na missão de paz das Nações Unidas no Timor Leste, uma pequena ilha situada entre a Oceania e o sudeste asiático, que está se preparando para se tornar um país livre da opressão e independente politicamente.

Para participar desse esforço pela paz mundial, o Comando da Polícia Militar contribuiu com o envio de quatro oficiais de polícia que estão compondo o efetivo policial das Nações Unidas naquela ilha, em uma missão com duração de um ano.  

O trabalho desempenhado por esses oficiais está ajudando a construir uma nova nação, livre e independente, ao mesmo tempo que apresentam para o mundo, qual é o potencial da Corporação policial paulista. 

O QUE É UMA MISSÃO DE PAZ? 

“Missão de Paz” é o nome genérico dado a um tipo de operação desenvolvida e coordenada pelas Nações Unidas com o objetivo de solucionar um conflito armado localizado que possa representar uma ameaça para a paz mundial e reestabelecer a ordem local. O conflito pode variar desde uma guerra entre países até uma guerra civil.  

Essa operação compreende o envio de uma força multinacional para o local em crise, após aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, composto por cinco membros permanentes (China, Estados Unidos, Rússia, França e Inglaterra), sob coordenação do Departamento de Operações de Manutanção da Paz das Nações Unidas (DPKO). A operação envolve pessoal civil, militar e policial, além de contar com a participação de outros orgãos oficiais da ONU e organizações não-governamentais, voluntárias para as missões.  

Desde 1948, já ocorreram 54 missões de paz, sendo que atualmente estão em desenvolvimento 15 missões em diversas partes do mundo. 

O conceito da missão de paz é bastante amplo, pois não se trata apenas de pacificar o conflito local e mantê-lo estável – missão classificada como “peacekeeping” (manutenção da paz), mas trabalhar com o apoio da comunidade local e auxiliá-los a construir um novo ambiente para viverem – conceito que hoje foi ampliado para “peacebuilding” (construção da paz). 

Dentro do conceito de “peacebuilding”, as Nações Unidas desenvolvem trabalhos no sentido de monitorar os atos de cessar-fogo; criar zonas de segurança; criar novas instituições políticas; trabalhar com os governantes locais; facilitar o trabalho das organizações não-governamentais; desmobilizar, desarmar e reintegrar na sociedade os ex-combatentes; realizar operações de desminagem; organizar eleições livres e democráticas; monitorar a aplicação da lei; desenvolver e monitorar as forças policiais locais.  

As missões de paz não devem ser confundidas com operações militares desenvolvidas sob supervisão da ONU, como ocorreu na Guerra do Golfo, Somália, Haiti, Bósnia e na fase intervencional do Timor Leste. As operações de intervenção da ONU são aprovadas pelo Conselho de Segurança com o objetivo de pacificar uma área de conflito, mesmo sem o consentimento do país envolvido. Na missão de paz, a área já está pacificada ou está em processo de pacificação, mas há o conscentimento do país envolvido em receber o apoio da ONU.  

O exemplo do Timor ilustra bem essas operações.  Em 1999, a ONU organizou uma missão denominada UNAMET (Missão das Nações Unidas no Timor Leste), com o objetivo de avaliar a situação do então território indonésio envolvido em um conflito civil de separação. Após o “referendum” de libertação, a Indonésia expulsou a ONU e iniciou uma retaliação contra os timorenses, sendo necessária a intervenção militar no local, em uma missão denominada INTERFET (Força de Intervenção das Nações Unidas no Timor Leste). Após pacificado o conflito e com a anuência da Indonésia em conceder a independência ao território, a missão passou a ter um outro trabalho, o de construção de uma nação, cujos trabalhos estão sendo desenvolvidos em uma missão denominada UNTAET (Administração Transitória das Nações Unidas no Timor Leste). Possivelvente, após a proclamação da independência, prevista para 20 de maio de 2002, a ONU irá reestruturar a missão, que passará a ter características de suporte técnico e supervisão, devendo ser renomeada como UNSET (Missão de Apoio das Nações Unidas ao Timor Leste).  

Os países membros das Nações Unidas são os contribuintes dessas missões. Cada país contribui de uma forma diferente, conforme sua disponibilidade de recursos financeiros, material e de pessoal. Os países que contribuem com o envio de pessoal e material são posteriormente ressarcidos, através da ONU, pelos países que contribuiram apenas financeiramente. 

Quando integrando as missões de paz, os voluntários – civis, militares e policiais – passam a integrar temporariamente as Nações Unidas e a representar não apenas seus países de origem, mas o o esforço mundial pela paz. Os voluntários passam durante esse período, a terem uma só bandeira: a bandeira azul das Nações Unidas, ostentando a boina-azul e o distintivo da ONU em seus uniformes, a serviço da paz. 

A QUESTÃO DO TIMOR LESTE

O Timor Leste é a parte oriental da ilha do Timor, situada no arquipelago malaio, entre o Oceano Indico e o Oceano Pacífico, distante 500 Km da Australia e 1.000 Km da Ilha de Java. A ilha está tecnicamente situada no continente da Oceania, mas sua proximidade com a Ásia, cultura e tradições a caracterizam como um território asiático. 

A ilha teve uma colonização portuguesa, iniciada entre 1512 e 1520. No século XVII, depois de uma série de disputas, os holandeses assumiram a parte ocidental da ilha, atualmente território indonésio.

Território estratégico, entre a Austrália, Indonésia e Filipinas, dando acesso à China, o Timor foi invadido durante a II Guerra Mundial, primeiro pelos australianos, que pretendiam organizar uma resistência no território, em seguida pelos japoneses, que criaram campos de concentração, cometeram atrocidades em larga escala e deixaram 60.000 mortos.

Em 1945, a Indonésia, sob o comando de Sukarno, conseguiu a independência da Holanda, passando a ser uma república em todo o território da antiga colônia, o Timor Oeste inclusive. Mas o governo de Jacarta não manifestou qualquer pretensão sobre o Timor Leste, território português.

Com a Revolução dos Cravos, deflagrada no dia 25 de abril de 1974, teve início o processo de descolonização. Portugal deixou aos timorenses a escolha entre a independência e a integração à indonésia. Imediatamente, a Austrália, potência regional, se manifestou a favor da integração à Indonésia.

Os primeiros partidos políticos timorenses foram criados em maio de 1974. Foram criadas a UDT (União Democrática Timorense), a ASDT (Associação Social Democrata Timorense) e a APODETI (Associação Popular e Democrática Timorense), sendo que esta última pregava a integração à Indonésia. A ASDT mudou o nome para FRETILIN (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente).

Em agosto de 1975, boatos de um golpe de estado marxista que estaria sendo preparado pela FRETILIN precipitam o Timor numa guerra civil, fazendo 3.000 mortos.

As tropas indonésias começaram a se infiltrar no território pela fronteira com o Timor Oeste e em 7 de dezembro de 1975  começaram a bombardear Dili e a invadir o Timor Leste. Ocorreu então uma repressão que resultou na morte de mais de 200 mil timorenses, seja pela violência direta, a fome programada, o deslocamento forçado de populações inteiras, ou em campos de concentração.

A FRETLIN criou um braço armado, a guerrilha FALINTIL (Forças Armadas de Libertação do Timor Leste), que chegou a controlar 80% do território. Apesar da superioridade numérica e do equipamento moderno, os indonésios nunca conseguiram vencer os guerrilheiros, que resistiram por 24 anos. Entretanto, vilarejos inteiros foram massacrados pelos indonésios e cabeças decepadas de suspeitos de colaborar com as FALINTIL foram exibidas por toda parte.

Durante anos o Timor Leste ficou isolado do mundo. Em outubro de 1989 o Papa João Paulo II visitou o Timor, ocorrendo na ocasião diversas manifestações pró-independência, duramente reprimidas.

Em outubro de 1996 a causa do Timor ganhou reconhecimento internacional com a atribuição do Premio Nobel da Paz ao bispo Carlos Ximenes Bello e ao jornalista timorense José Ramos Horta.

Portugal e a Indonésia passam a negociar a realização de uma consulta popular. A missão das Nações Unidas UNAMET, se instala então no território para supervisionar a realização de um plebiscito. No dia 30 de agosto de 1999, mais de 98% da população comparecem às urnas e o resultado não deixou margem à dúvida: 78,5% dos timorenses escolheram a independência.

Antes mesmo da proclamação dos resultados, as “Milícias”, grupos pró-indonésios protegidos pelo exército indonésio, desencadearam uma violência sem precedentes: homens armados de catanas (facões) e fuzis caçaram e mataram nas ruas todos aqueles que supunham ter votado pela independência. Milhares de pessoas foram separadas das famílias ou executadas. As casas foram incendiadas. A população fugiu para as montanhas ou buscou refúgio nas igrejas e em prédios de organizações internacionais. Mas as milícias cercaram e invadiram a sede da Cruz Vermelha e as Nações Unidas. Todos os estrangeiros acabaram sendo também evacuados, deixando o Timor entregue à fúria das milícias e dos militares indonésios.

A ONU decidiu então formar uma força internacional para intervir. Em 20 de setembro de 1999, 2.000 soldados da INTERFET entraram em Dili e encontram tudo devastado e incendiado. Um país tão arrasado que não seria possível reconstruir. Teria que ser construido a partir do zero. 

A UNTAET 

A missão de Administração Transitória das Nações Unidas no Timor Leste (UNTAET) foi instituída em 25 de outubro de 1999, de acordo com a Resolução 1272 do Conselho de Segurança da ONU. A missão recebeu as seguintes incumbências, chamada de “mandato da missão”: 

-          Proporcionar segurança e manutenção da lei no território timorense;

-          Estabelecer uma administração efetiva;

-          Apoiar o desenvolvimento dos serviços civis e sociais;

-          Assegurar e coordenadar a assistência humanitária, reabilitação e desenvolvimento social;

-          Apoiar a capacidade de auto-governabilidade; e

-          Apoiar o estabelecimento de condições para um desenvolvimento sutentável.

 

Chefiada pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello, a UNTAET conta com um efetivo de:

-          7.998 militares das Forças de manutenção da Paz (PKF);

-          127 observadores militares (UNMO);

-          1.489 policiais internacionais (CIVPOL);

-          1.228 policiais locais (TLPS);

-          972 civis internacionais de serviços administrativos, de saúde e técnicos (INTERNATIONAL STAFF);

-          1. 859 civis da administração local (ETTA).

 

Já foram gastos na missão, cerca de 563 milhões de dólares americanos e há a previsão, para este ano, de um orçamento de mais 300 milhões de dólares. 

A CIVPOL 

Uma das atividades desenvolvidas durante uma missão de paz é o serviço de polícia, com a estruturação de uma força chamada ”Civilian Police” (CIVPOL). Esse tipo de serviço começou a ser desenvolvido pela ONU nos anos 60, nas operações do Congo e em Chipre. Hoje, o serviço de polícia das Nações Unidas conta com a participação de 70 países e cerca de 7.000 policiais, atuando em 10 das 15 missões em desenvolvimento.

O trabalho de CIVPOL é considerado de extrema importância para a missão, pois sua atuação dará os parametros para uma organização social democrática e respeitadora dos direitos humanos.

O serviço de polícia das Nações Unidas pode ocorrer de duas formas: como observadores policiais, semelhante à atuação dos observadores militares, atuando como analistas e supervisores da policial local e dos problemas sociais e criminais que ocorrem na área de conflito. Outra forma de atuação, iniciada na missão do Kosovo, é a participação como força policial efetiva e armada, possuidora do “executive power”, conhecido no Brasil como “poder de polícia”. Nesta situação, a ONU desempenha todos os serviços de polícia na área de conflito, desde o policiamento ostensivo preventivo até investigações, emisssão de licenças diversas, identificação de pessoas, controle de tráfico, controle de tumultos e outras operações e serviços policiais. 

Na UNTAET, de acordo com a Resolução 1272, o mandado da CIVPOL compreende:

-          Proporcionar segurança e manutenção da lei no território timorense; e

-          Formar, preparar e supervisionar o novo serviço de polícia local. 

Todo tipo de serviço policial está sendo desenvolvido pela ONU no Timor Leste, através da CIVPOL, destacando-se o que é considerado o trabalho mais importante da CIVPOL na missão: a criação de uma nova polícia. A polícia no Timor Leste era um serviço exercido pela polícia da Indonésia, através de um comportamento agressivo e opressor. Com a libertação do território, os policiais indonésios deixaram o país e a polícia foi extinta, exigindo da ONU a criação de uma nova organização, baseada nos princípios democráticos, respeitando os direitos humanos, atuando dentro da lei e das técnicas de ação policial.

Essa nova polícia não foi chamada de “força de polícia”, mas de “serviço de polícia”, com o nome oficial de “Timor Lorosa’e Police Service” (TLPS), por entender que essa atividade visa proteger e servir a população.

Participam desse esforço de paz, 40 países: Argentina, Austrália, Austria, Bangladeshi, Benin, Bósnia, Brasil, Canadá, Cabo Verde, China, Egito, Eslovenia, Espanha, Estados Unidos da América, Filipinas, Gambia, Ghana, Inglaterra, Jordania, Kenia, Malasia, Moçambique, Namibia, Nepal, Niger, Nigéria, Noruega, Nova Zelandia, Paquistão, Portugal, Russia, Samoa, Senegal, Singapura, Sri Lanka, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia, Vanuatu. 

OS NOVOS BANDEIRANTES 

A maior representação brasileira na missão é feita pelo próprio Administrador Transitório do Timor Leste, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, funcionário de carreira das Nações Unidas e que hoje ocupa o cargo de Representante Especial do Secretário Geral das Nações Unidas no Timor Leste, o cargo mais elevado na missão e que seria o equivalente a um “Presidente da República” temporário, até a independência do país.

A contribuição brasileira no Timor Leste está sendo feita através do envio de pessoal civil, militar e policial. Do efetivo militar, integrando a missão desde a força de intervenção, está um pelotão de Polícia do Exército, composto por cerca de 70 militares sob o comando de um capitão. Esse efetivo é substituído a cada seis meses,  revezando esses contingentes entre as unidades de polícia do exército existentes em São Paulo, Rio de janeiro, Pernambuco, Brasília e Rio Grande do Sul.

A participação militar brasileira também é composta por UNMO (Observadores Militares das Nações Unidas), encarregados de fazerem análises militares a situação local. Os observadores brasileiros são 15 militares do Exército e da Marinha, sendo o General de Brigada Sérgio Lineu Vasconcelos Rosário, o chefe de todo o efetivo de observadores brasileiros e internacionais. 

Na área policial, o Brasil possui uma modesta – mas significativa – participação. São 11 policiais militares:

-          04 Majores do Rio de Janeiro;

-          01 Capitão do Distrito Federal;

-          01 Capitão de Goiás;

-          04 Tenentes de São Paulo; e

-          01 Tenente de Pernambuco. 

Anteriormente a esse efetivo, a missão contou com outros 9 policiais militares do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Roraima.

Dos policiais brasileiros, todos estão em cargos de grande importância, como a Unidade de Padrões Profissionais (equivalente à nossa Corregedoria), Centro Nacional de Operações, Coordenação Nacional de Segurança e destacando-se no grupo, o Major da PMERJ Henrique Lima de Castro Saraiva, Sub-comissário de Operações e atualmente, exercendo a função de Comissário de Polícia interino, cuja posição, é o quinto posto mais importante de toda a missão, estando no mesmo nível do Comandante da Força de Paz, função que é exercida por um general.

Esta é a segunda participação da PMESP em missões das Nações Unidas. A primeira ocorreu em 1993, com a participação de três oficiais na missão UNAVEM II (Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola). Por diversas vezes foram feitas solicitações de participação da PM Paulista em missões de paz, mas somente agora a nossa corporação aceitou contribuir. Foram selecionados, através do Centro de Operações Terrestres do Exército (COTER), seguindo os padrões de seleção da ONU, quatro oficiais: Tenentes DÉCIO, HÉLIO, FERNANDO e BRANCO. Os testes foram abertos para oficiais e praças e compreenderam testes de fluência na língua inglesa, direção de viatura 4X4 e tiro.

Em 05 e em 17 de junho de 2001, os oficiais selecionados seguiram viagem com destino à Darwin, na Austrália, para posteriormente serem enviados à ilha do Timor. No Timor, foram novamente submetidos aos mesmos exames de seleção para serem certificados como aptos para a missão. Foram submetidos ao treinamento introdutório de polícia, a fim de serem capacitados nos padrões operacionais e administrativos das Nações Unidas.

Atualmente, as funções e trabalhos desenvolvidos pelos oficiais paulistas na CIVPOL são: 

-          1º Ten PM DÉCIO José Aguiar Leão, Aspirante da turma de 1988, estava servindo na APMBB. Especialista em explosivos, armas e operações especiais, foi selecionado para comandar a Unidade de Armas e Explosivos da Polícia da ONU no Timor Leste, sendo encarregado de confeccionar as normas e regulamentos para registro de armas de fogo, criação de um banco de dados em âmbito nacional sobre armas, assessoramento técnico aos legisladores, confecção de normas e manuais sobre operações com explosivos e anti-terrorismo para a polícia local, bem como desenvolvimento de instruções e operações envolvendo explosivos a nível nacional. 

-          1º Ten PM HÉLIO Tenório dos Santos, Aspirante da turma de 1991, estava servindo na DP. Sua experiência no patrulhamento ostensivo na Zona Sul de São Paulo está sendo empregada para o desenvolvimento do policiamento ostensivo nas diversas modalidades – a pé, motorizado com motos e veículos, com bicicletas – e no policiamento comunitário. Está exercendo a função de Comandante da Estação de Polícia de Becora, que compreende a área leste da capital timorense que ocupa a parte leste da capital timorense. Sua função é equivalente a de um Comandante de Companhia de Policiamento, sendo responsável pela supervisão e instrução de policiais da ONU e policiais locais. Nesta função, tem trabalhado no sentido de promover um rápido entrosamento e operacionalização da polícia local que, gradativamente, vai assumindo as funções operacionais. Sob seu comando conta atualmente com 19 oficiais da CIVPOL e 22 agentes da polícia timorense. 

-          1º Ten PM FERNANDO Duarte de Freitas, Aspirante da turma de 1992, estava servindo no 1º GB. Esta trabalhando na Unidade de Proteção Pessoal da Polícia. Essa unidade é responsável pela segurança de autoridades do Timor Leste e VIPs visitantes em viagens oficiais. As equipes trabalham fazendo a segurança pessoal das principais figuras políticas do Timor, como Xanana Gusmão, ex-preso político e ex-líder das FALINTIL, potencial futuro presidente do Timor; José Ramos Horta, prêmio Nobel da Paz e atual Ministro das Relações Internacionais, entre outros. Com sua especialização na área de bombeiros e experiência em resgate e socorros de urgência, tem também desenvolvido treinamento para os policiais locais nesses assuntos. 

-          2º Ten PM Luiz Augusto BRANCO, Aspirante da turma de 1997, servindo no 1º BPChq. Sua experiência como Comandante de Pelotão de ROTA está sendo útil como integrante do “E” Team (Equipe ECO) do Distrito Policial de Dili, uma unidade tática formada por policiais com essa especialidade, responsável pelo desenvolvendo serviços de patrulhamento tático e controle de tumultos. Entre os trabalhos realizados, encontram-se cumprimento de mandados de busca e prisão, treinamento do grupo tático local, chamado de “Foxtrot Team”, além de operações de bloqueio e fiscalização policial. 

RESULTADOS 

Desde o início da UNTAET, em outubro de 1999, foram feitos desenvolvimentos nas diversas áreas de serviço público, como econômia, assistência social, telecomunicações, infraestrutura, transportes, saúde, educação. Muitos desses serviços, como a construção de hospitais, ocorreu a partir do zero.

Foi instituído um Conselho de Ministros, que está gradativamente assumindo os serviços públicos e o governo executivo. A Assembléia Constituinte, instaurada em 08 de outubro de 2001, está trabalhando com 13 comissões constitucionais, e irao decidir sobre o sistema de governo, orçamento, nome oficial e bandeira nacional do Timor e a promulgação da nova constituição.

Foram repatriados 185.519 refugiados e ainda são esperados entre 60 e 80 mil timorenses que estão na Indonésia e em outros países vizinhos.

A justiça está investigando, juntamente com a CIVPOL e órgãos de direitos humanos, mais de 400 casos de crimes graves ocorridos no período indonésio.

Na área de defesa territorial, foi criada a Força de Defesa do Timor Leste (FDTL), instituição militar para defesa do novo país, já contando com 1.500 militares.

Na área de segurança pública, a nova polícia, a Timor Lorosa’e Police Service, já está com 1.228 policiais formados pela CIVPOL no novo Police College. Até abril de 2002, espera-se que esse número chegue a 2.000 policiais e espera-se que no futuro, a proporção de policiais fique em 1 para 300 habitantes.

A CIVPOL e a TLPS está presente em todo território. Estão em funcionamento 64 estações de polícia nos 13 distritos administrativos do país. Os índices criminais estão muitos baixos. O número de crimes foi reduzido para 300 casos por mês em todo o Timor, sendo que cerca de 70 % desses crimes são delitos de menor gravidade, como desinteligência, furto, danos materiais e ameaças. Casos graves, como roubo, estupro e homicídio representam menos de 4 % dos casos, sendo freqüente meses sem incidentes dessa natureza. A região mais problemática é a capital, Dili, onde ocorrem 60 % dos crimes do Timor. No interior situação é mais tranqüila, sendo que em alguns distritos passam um mês todo sem que ocorra um único crime.

Mas a mais importante ação da CIVPOL no Timor Leste é a recuperação da confiança da população timorense em um serviço de polícia efeciente, honesto e legalista, que está demonstrando respeitar a comunidade e trabalhar conjuntamente para o seu bem, a seu serviço e para sua proteção.

Os trabalhos da UNTAET no Timor Leste foram fundamentais para a ONU receber, em 12 de Outubro de 2001, o Prêmio Nobel da Paz.

A outorga do Prêmio Nobel da Paz para 2001 para as Nações Unidas e para seu Secretário-Geral, Kofi Annan, em conjunto, pelos “trabalhos para uma melhor e mais organizada paz mundial”. Em memorando de 13 de Outubro de 2001, o nosso Representante Especial do Secretário-Geral, Dr. Sérgio Viera de Mello, divulgou a todo efetivo da UNTAET que os trabalhos desenvolvidos pela ONU no Timor Leste foram a base da decisão da comissão julgadora do prêmio, pois em um período de menos de dois anos, foi conseguida uma pacificação completa da região e novo país está preparado para um democrático e pacífico processo de independência política.

Os índices de criminalidade foram muito reduzidos e as eleições de 30 de agosto passado mostraram o total controle que temos sobre o território. O SRSG transmitiu ainda que moralmente, esse prêmio deve ser compartilhado por todos os integrantes da ONU e de suas missões, pois somos todos os responsáveis por ele.

Acreditamos, da mesma forma, extender essa consideração também para a PMESP, uma vez que seus integrantes estão sendo parte ativa desse trabalho meritório do Prêmio Nobel da Paz. 

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NAS MISSÕES DAS NAÇÕES UNIDAS 

Após séculos de dominação portuguesa e décadas sob a opressão da Indonésia, a pequena ilha do Timor ganhou destaque mundial e chamou a atenção de muitos países. Hoje, existe um interesse muito diversificado sobre o Timor.

O interesse dos portugueses tem raíses históricas. O Timor foi colônia portuguesa durante quatro séculos e muitos aspéctos culturais e sociais permanecem, dos hábitos alimentares até o idioma. Existem também muitas famílias que imigraram de Portugal para o Timor e vice-versa, exigindo que Portugal mantenha um estreito vínculo com esse novo país.

Os australianos possuem interesse comercial. A proximidade da ilha com a Austrália favorece mais um ponto de comercio e pesquisas científicas confirmaram a existência de petróleo no mar do Timor e possivelmente, também na ilha. Os timorenses não possuem condições tecnológicas para explorar e comercializar esse produto, trabalho que a Austrália está querendo assumir em “cooperação” com os timorenses.

Os Estados Unidos possuem interesses estratégicos. O Timor é uma base militar em pontecial, pois está no meio de dois continentes, próximo à China e ao sudeste asiático. A fossa marítima da ilha de Atauro é muito profunda e com uma formação geográfica perfeita para uma base de submarinos.

Esses exemplos ilustram os muitos e diversos interesses que estão surgindo sobre o Timor. Questiona-se qual o interesse brasileiro na ilha e mais particularmente, qual o interesse que poderia ter uma polícia brasileira estadual em participar da questão timorense.

Neste caso, os interesses econômicos ou estratégicos são muito pequenos. Mas há um interesse político muito grande. O Brasil quer ocupar uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas, posição de grande importância internacional e que está sendo fortemente disputada pela Argentina. Para fazer parte desse conselho e poder ter o poder de decisão sobre questões internacionais, o Brasil precisa se fazer presente no cenário dos conflitos mundiais. Uma forma de participação é através das missões de paz, enviando pessoal e recursos nas diversas áreas e serviços de uma missão.

Participando de uma missão, a Polícia Militar não está representando uma corporação estadual, mas a Nação Brasileira. Não são apenas quatro oficiais que foram colocados à disposição de um órgão: é o Brasil participando de um esforço multinacional para a paz mundial.

Mas há também o interesse particular da Polícia Militar nessa missão. As Nações Unidas tem como referencial da polícia brasileira dois epsódios: Candelária e Carandirú. A imagem de polícia truculenta, corrupta e repressiva que o Brasil possuí é muito semelhante ao conceito dado à polícia indonésia nos anos de tortura e assassinatos no Timor Leste. Ainda que isso não represente a realidade, essa é a imagem que temos no exterior.

A participação da polícia brasileira nas missões de paz é fundamental para reverter essa imagem. Os programas internos que estão sendo desenvolvidos são fundamentais para mudança de comportamento dos nossos policiais, mas não basta nós sabermos que nós mudamos. É precisa mostrar essa mudança ao mundo.

Durante a missão, diversos contatos, amizades e relacionamentos profissionais surgem entre policiais, funcionários das Nações Unidas, altas autoridades locais e estrangeiras. O trabalho desempenhado por nós tem sido alvo de grandes elogios e surpresa por parte das Nações Unidas, a ponto de colocar os policiais brasileiros como referência de comando, organização e operacionalidade.

Foram divulgados, por exemplo, diversos programas que são desenvolvidos em São Paulo, como o Torneio de Técnicas e Táticas de Comando da APMBB, o Método Giraldi de treinamento de tiro defensivo, nosso sitema de ensino, nosso sistema de desenvolvimento do policiamento comunitário e outros aspectos de evolução técnica policial. A experiência e a capacidade dos oficiais paulistas são alvos de constantes elogios, colondo-nos em cargos de comando de unidade e em posições de decisão estratégica, como a Estação Policial de Becora e Unidade de Armas e Explosivos, além do segundo cargo mais importante da CIVPOL, o Subcomandante operacional da Polícia.

Estamos ajudando a criar uma nova imagem da polícia brasileira, uma imagem muito positiva, que está fazendo com que autoridades e organizações internacionais passem a conhecer o que é de fato a polícia brasileira, seu potencial humano, operacional e atuação legalista, ao mesmo tempo que a Polícia Militar do Estado de São Paulo se faz presente na criação de uma nova nação. 

Dili, Timor Leste, em 10 de Novembro de 2001. 

DÉCIO JOSÉ AGUIAR LEÃO
1º Tenente PM 

 

 

DADOS SOBRE O TIMOR LESTE 

Timor é uma palavra malaia que significa “oriente”. Em tetum, a língua local, o Timor Leste é chamado de Timor Lorosa’e (Oriente do sol nascente), pelo belíssimo nascer do sol que é refletido no litoral. Dentro do folclore Maubere, nome do povo nativo da ilha do Timor, o local é conhecido como “Ilha do Crocodilo”,  devido a grande quantidade desses animais existentes no passado na ilha e pela lenda de que um crocodilo se transformou na ilha para dar um lugar para um menino poder viver.

 

ASPECTOS POLÍTICOS 

Capital: Dili, situada ao norte da ilha. População estimada em 200.000 habitantes.

Moeda oficial: dolar americano.

Língua oficial: português.

Outras línguas faladas: bahasa indonésio, inglês e o tetum, um idioma nativo.

Divisão política: 13 distritos administrativos.

Governo: a Assembléia Constituinte, composta por 88 deputados, foi instaurada por eleições livres e está decidindo sobre a forma e o sistema de governo. Provavelmente será uma república presidencialista.

 

ASPECTOS FÍSICOS 

Área total da Ilha do Timor: 32.350 Km2

Comprimento máximo: 470 km

Largura máxima: 110 km

Área total do Timor Leste: 19.000 Km2

Área principal: 16.384 Km2

Comprimento máximo: 265 km

Largura máxima: 92 km

Enclave de Oecussi-Ambeno: 2.461 Km2

Distancia de Batugade (fronteira com o Timor Oeste): 70 Km

Costa de Oecussi: 48 Km

Principais ilhas: Atauro, com 144 Km2, situada a 23 km ao norte da capital Dili; e a ilha de Jaco com 8 Km2, no extremo leste do Timor.

Estradas (quilometros totais, em 1999): 6.363 Km

Estradas asfaltadas: 3.513 Km

 

ASPECTOS SOCIAIS 

População (2000): 779.567 habitantes, sendo 384.741 homens e 394.826 mulheres.

Densidade populacional: 56 habitantes por km2.

Taxa de desemprego da população urbana (2000): 80-90 %

Percentagem da população trabalhando na agricultura (2000): 75 %

Percentagem das famílias vivendo abaixo da linha de pobreza (1999): 49 %

Número de funcionários públicos (1999): 34.270

Expectativa de vida (1985): 57 anos

Taxa de mortalidade infantil (1999): 85 por mil

Taxa de mortalidade de crianças com menos de 5 anos (1995): 201 por mil

População com acesso a água potável (1998): 48%

Taxa de alfabetização de adultos (1998): 47% 

 

 

 

 

 


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